História

Uma história
no singular

O Edifício Alexandre Herculano 19, insere-se numa zona de Lisboa em franca expansão na 2ª metade do séc. XIX, logo após a recém-inauguração da Avenida da Liberdade em 1886, à época sob a alçada do plano de alargamento da cidade para norte, do Engenheiro-Chefe da Câmara Municipal de Lisboa, Frederico Ressano Garcia (1847- 1911).

Este plano implica a construção de quarteirões residenciais a bordejar o eixo que constituía a Avenida da Liberdade; do lado esquerdo abrem-se as Ruas Barata Salgueiro, a Alexandre Herculano, a Rosa Araújo (ao tempo Presidente da CML), a Rua Brancaamp e a Rua Mouzinho da Silveira, como alternativa à já existente Rua do Salitre, Lisboa é então uma cidade em grande desenvolvimento, numa dimensão muito própria, com edifícios à mesma altura que os anteriores pombalinos, agora com a novidade da fachada individualizada e personalizada.

Estes quarteirões foram alvo recente de restauro, a partir de um plano da CML sob a Presidência de Pedro Santana Lopes, com a Vereação do Urbanismo de Eduarda Napoleão, pelo que presentemente exibem o brio intrínseco das múltiplas fachadas de diferentes correntes culturais estéticas, internacionais ou não, apoiadas em sólidos desenvolvimentos técnicos à escala da Lisboa de então.

O projeto do edifício da Rua Alexandre Herculano 19 datado de 1893, tem como provável autor um arquiteto francês, não identificado nos registos da CML.

Marcam-no a característica mansarda da Paris de Aussmann, muito em voga na altura, bem como a estética e o material que a revestem. A aparente assimetria de algumas janelas da fachada de recorte desigual, e as diferentes varandas entre si, estão esteticamente inscritas numa linha de rigor equilibrado, com o desafio da inclusão de apontamentos de nova estética, inseridos numa ordem clássica bem ordenada.

O projeto para o 19 da Rua Alexandre Herculano, ocupa o espaço vazio entre os nºs 17 e 21, à data já construídos e é como os outros um típico edifício de “rendimento”. Com a construção mais longa e recuada do quarteirão e à semelhança de uma casa autónoma, cada andar possui acessos independentes para a entrada principal, de serviço e ainda um “quarto independente”, onde maioritariamente funciona a atividade profissional do inquilino.

Como recurso frequente à época, os quartos são virados para o interior com iluminação natural de 2 saguões e as salas para o exterior, na fachada principal e traseira.

O edifício é composto por 6 pisos e uma loja na cave, originalmente destinada a mercearia e venda de vinhos e bebidas finas, com uma bonita decoração original a óleo no teto, predominando beija flores em cores harmoniosas a tom pastel.

O interior do edifício à data da construção não prevê o elevador, que será instalado cerca de 30 anos mais tarde, facilitando a sua circulação interior, hoje renovado.

Nas 3 décadas de pós construção, o edifício albergou alguns ocupantes à época conhecidos na sociedade lisboeta e nacional.

Ali residiram por vários anos o Senhor Cónego Damasceno Fiadeiro, aluno de Egas Moniz e Damas Mora, capelão da casa real, confessor da Rainha D. Amélia perceptor dos Príncipes D. Luis Filipe e D. Manuel, camareiro secreto de S. Santidade, entre muitas outras responsabilidades.

A Dr.ª Maria Luísa de Saldanha da Gama Van Zeller, assistente na Universidade de Medicina de Paris e afamada diretora da Maternidade Alfredo da Costa.

José de Moraes, homem de cultura literária, fundador da famosa Editora Moraes, extinta em 1999, cujos direitos aos títulos foram comprados e reeditados pela Editora Centauro e António Alçada Batista. O proprietário inicial do edifício é Eduardo Laemmert Bulcão, fidalgo açoriano, filantropo, figura marcante nos meios açorianos que, à semelhança de outros investidores, cedo aposta nesta recente parte de Lisboa. Aqui virá mais tarde a viver os últimos anos de vida, ocupando com a sua família os 4º e 5º andares.

Presentemente o edifício ainda se encontra na posse da sua família.

Eduardo e Maria Bulcão

O primeiro contacto com o interior é decorado por um magnifico teto no hall de entrada, ricamente decorado com figuras humanas masculinas e femininas que suportam um largo medalhão floral.

Completam este hall paredes ricamente apaineladas e as portas de guarda vento com detalhe assimétrico art nouveaux.

O interior é profusamente decorado com rodapés de escala nobre requintadamente apainelados, portas duplas apaineladas, sancas de palmetas, tetos de estuques decorados, alguns neo-rocailles ainda com decoração original a óleo, outros de estrutura mais geométrica, decorada a frutos com pintura trompe l´oeil, imitando madeiras nobres tão ao gosto da época.

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